Dentistas propõem ao ministro criação do "dentista de família"

Dentistas portugueses propuseram ao ministro da Saúde a criação da figura do "dentista de família", a ser atribuído às crianças à semelhança do médico assistente, uma proposta que por enquanto não foi acolhida.

A proposta foi feita por dois representantes da Ordem dos Médicos Dentistas integrados no grupo de análise do programa de saúde oral, disse hoje à agência Lusa Paulo Rompante, um dos médicos responsáveis.

A ideia consiste em atribuir a uma criança, quando nasce, um dentista que funcione como uma espécie de médico de família para a saúde oral, mas sem integrar os profissionais nos centros de saúde.

"Não estamos a propor médicos dentistas para os centros de saúde. A proposta passa por um sistema de convenção", explicou Paulo Rompante, em entrevista à agência Lusa, à margem do Congresso dos Médicos Dentistas, que decorre até sábado em Lisboa.

Quanto ao programa de promoção de saúde oral nas escolas, o médico aponta algumas falhas e defende uma reorganização deste projecto, críticas que são acompanhadas por outros clínicos e pelo próprio bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas.

A etapa básica e essencial deste programa passa por promover a escovagem diária na escola, o que não está a ser realizado em grande parte das instituições.

"Como o programa foi concebido, só tinham direito a aceder às outras etapas do programa as escolas que promovessem a escovagem diária. Nenhum programa funciona se esta escovagem não for promovida", comentou o especialista.

O argumento invocado por algumas escolas de que não têm condições para promover a saúde oral não colhe entre os dentistas.

"Se uma escola não tem condições para isto, então quase mais vale fechar a escola", considerou Frias Bulhosa, outro dos elementos da Ordem que participou no grupo de análise que fez propostas ao ministro da Saúde.

Até porque, frisa o especialista, para escovar os dentes basta apenas que os alunos tenham uma escova e pasta, sendo o uso de água até prescindível.

A par da escovagem, as escolas incluídas no programa de saúde oral promovem a administração de flúor quinzenalmente entre os seus alunos.

Depois desta etapa, devem seleccionar-se as crianças que devem colocar selante nos dentes - um material plástico que é aplicado para prevenir as cáries.

Mas também aqui há falhas no programa realizado nas escolas, dizem os dentistas.

Isto porque, antes do selante, é necessário detectar se a criança não tem já cáries em desenvolvimento, o que deve ser feito por um médico dentista, que não está presente na escola.

"A selecção das crianças nem sempre é feita por profissionais qualificados. Actualmente isso é a maior parte das vezes feito pelas equipas de saúde escolar, que muitas vezes nem têm sequer um higienista oral", sustentou Paulo Rompante.

O médico sublinhou que a cárie é uma doença "infecciosa e contagiosa", cujo diagnóstico deve ser feito pelo dentista: "Quando a lesão no dente já é evidente é porque a cárie já está em fase demasiado adiantada. Por vezes é até preciso socorrer a raio-x para detectar uma cárie".

Este diagnóstico deve ser sempre feito antes de colocar o selante, alerta o bastonário da Ordem, Orlando Monteiro da Silva.

O bastonário considera que os higienistas orais têm preparação para colocar o selante, mas recorda que estes devem sempre trabalhar sob supervisão de um médico dentista, que é a quem compete fazer o diagnóstico das cáries.

As escolas pedem autorização aos pais para colocar os selantes nas crianças, mas alguns encarregados de educação têm manifestado dúvidas face aos benefícios desta situação.

Vanda Domingues, mãe de Catarina, de seis anos, contou à Lusa que autorizou a sua filha a aderir ao programa, mas recusou a aplicação do selante por considerar que a criança deveria ser vista primeiro por um dentista.

"Nem sabia bem o que era o selante e estranhei ser um higienista a tomar a decisão de o aplicar, sem eu saber se tinham ou não sido verificadas as cáries", relatou.

Para o médico Frias Bulhosa, outra das deficiências do programa de saúde oral tem a ver com a falta de acompanhamento das crianças.

"Uma criança de quatro, cinco ou seis anos pode entrar num determinado ano no programa, mas depois não voltar a ser acompanhada. A criança não é seguida nos anos seguintes", lamentou.

Hoje, durante o Congresso da Ordem dos Médicos Dentistas, mais de 500 crianças de várias escolas estiveram numa sessão de promoção de saúde oral, que contemplou uma sessão de "aprendizagem para a escovagem".

Foi ainda promovido um rastreio dentário a algumas crianças de escolas de zonas mais desfavorecidas.

 

Fonte: Lusa / NBRSolutions
22/11/2007